Lady Gaga e o Caos na praia de Copacabana

As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Irecê Notícias. Os conteúdos apresentados na seção de Opinião são pessoais e podem abordar uma variedade de pontos de vista.

O novo trabalho de Lady Gaga, Mayhem, não é apenas música. É uma nova forma de sinfonia na carreira da cantora, um manifesto de resistência onde o caos se torna harmonia. Inspirado na ideia de que a desordem é a matéria-prima da criação, Gaga funde eletrônica industrial, guitarras experimentais e batidas pop com letras que rasgam o véu de um universo criado e muitas vezes escondido ao longo dos anos. Em Mayhem, ela não canta: ela conjura. Cada nota é uma flecha lançada contra a apatia, cada melodia uma dança frenética sobre os escombros do conformismo.         

Quando Gaga apresentou Mayhem no Coachella, o deserto da Califórnia virou altar de epifania. Ela, que já dominou palcos desde Just Dance até a indicação de Oscar de Melhor Atriz, reafirmou sua genialidade: uma carreira construída na arte de reinventar-se. De Born This Way a Chromatica, Gaga sempre soube transformar dor em hino, trauma em transcendência. Agora, Copacabana será o palco para seu próximo capítulo — um encontro entre o efêmero e o eterno, onde a praia mais famosa do mundo abraçará o caos criativo.

O impacto do show vai além do estético. Estudos apontam que eventos globais como esse geram aumento de 30% no turismo urbano, aquecendo hotéis, gastronomia e transporte. Só no Rio, espera-se R$ 500 milhões em receita direta, com 200 mil turistas nacionais e estrangeiros. Mas o valor simbólico é ainda maior: Mayhem chega num momento em que o Brasil precisa urgente de símbolos que unam, não que dividam. Enquanto o reverbera atos de corrupção e debates políticos que se perdem em moralismos vazios, Gaga oferece algo raro — um projeto coletivo, capaz de mobilizar gerações.  

Sendo essa uma coincidência irônica ou cruel: enquanto Mayhem aporta no Brasil, o país mergulha no seu próprio caos. O escândalo do INSS revela um Estado que falhou com seus vulneráveis; a proibição do Pastor Mirim de fazer dinheiro às custas de fieis desesperados; a condenação de Nikolas Ferreira pelo ato transfóbico, o peso das instituições contra a intolerância. Até mesmo a polêmica da camisa vermelha da Seleção, que "combina" com o show, soa como um sinal de que até a estética nacional está presa em paradoxos. Mas talvez este seja o ponto: Gaga não foge do caos. Ela o abraça, o transfigura.  

Num país onde a política vira circo e o circo, tragédia, Mayhem na Praia é uma provocação necessária. Não por acaso, o show será em Copacabana — a mesma areia que viu Chico Buarque cantar resistência na ditadura e Gilberto Gil sonhar com o futuro. A arte de Gaga não é neutra: é uma celebração da diversidade, da resiliência, da beleza que brota entre as ruínas. Enquanto Luva de Pedreiro perde processos e Pix-pensão avança, ela nos lembra que há riquezas que não se medem em reais, mas em emoção.

Lady Gaga não vem ao Brasil para entreter. Vem para desafiar. Seu Mayhem é um espelho para uma nação que precisa escolher: continuar se afogando em escândalos ou encontrar, na arte e na união, um caminho para além do desespero. Na areia de Copacabana, entre fogos de artifício e gritos em uníssono, talvez nasça a resposta: o caos não é o fim. É o berço.

E o brasileiro se alinha bastante a essa proposta caótica trazida pela Mother Monster, pois como declama a artista em seu manifesto de abertura: “Cuidado, diz, o fogo no teu peito Jamais se apaga sem saber por quê. Encontra um outro modo, mais perfeito, De usar a dor que em ti sempre se vê [...] Com meu cantar, um lar hei de erguer, Mas só o fim dirá se vai vencer." — Vencer é a única crença que o brasileiro raramente abandona diante do caos político em que vive, e artistas como Lady Gaga são memoráveis pela sua atemporalidade e segue inspirando pessoas por todo o planeta,  inclusive essa coluna que ousa sonhar além do caos brasileiro.

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